Sem território, não há justiça climática para o povo Kokama 

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Federação Kokama
Foto: Federação Kokama

A 7ª Assembleia do povo Kokama debateu demarcação, educação, saúde e valorização da língua e dos saberes tradicionais dentro do contexto da crise climática.

Realizada em Amaturá, no estado do Amazonas, entre os dias 8 e 11 de julho, a 7ª Assembleia Geral dos Movimentos do Povo Kokama foi um importante marco na luta indígena no Alto Solimões. O encontro reuniu lideranças, mulheres, jovens, mestres taitas (patriarcas), professores e parceiros com o objetivo de fortalecer a luta, a cultura e os direitos do povo Kokama. A assembleia abordou a demarcação territorial, a educação e a saúde indígena, além da valorização da língua e dos saberes tradicionais. 

A ACT-Brasil participou como parceira e apoiadora do povo Kokama e pôde acompanhar discussões importantes, como a formulação de estratégias para o fortalecimento da proteção territorial. Com o tema “Protegendo nosso território e o meio ambiente: justiça climática como solução para o povo Kokama”, a 7ª Assembleia focou em formas e meios para que as aldeias se protejam das ameaças externas. A região é fortemente impactada pelo garimpo, pelo narcotráfico e pela grilagem de terras — práticas que, cotidianamente, violam a existência e o bem viver desses povos. 

“Queremos que nosso território seja respeitado e, com isso, que o meio ambiente também o seja. Muitos invasores chegam até aqui e impactam de forma negativa, com tráfico e desmatamento. Neste momento, queremos nos fortalecer para proteger nossas aldeias de forma articulada e unida”, afirmou a presidente da Federação Kokama, Glades Kokama. 

Glades Kokama (presidente da Federação Kokama) e Edney Samiaso (Cacique tradicional do povo Kokama).
Glades Kokama (presidente da Federação Kokama) e Edney Samiaso (Cacique tradicional do povo Kokama). Foto: Federação Kokama

“Aqui resistimos, e aqui existimos”  

A demarcação territorial, luta mãe dos povos indígenas do Brasil, foi uma das pautas centrais da Assembleia e se soma à luta nacional dos povos contra o Marco Temporal. Embora o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha declarado a tese inconstitucional, o Congresso Nacional aprovou uma lei que tenta restabelecê-la. A questão permanece em disputa, mas, para os povos, isso é uma ameaça aos direitos originários e tem motivado mobilizações em todo o país. O desfecho depende da decisão final do STF e de possíveis mudanças legislativas.  

Glades reforça a luta nacional dos povos indígenas ao destacar que a justiça climática passa pela demarcação dos territórios: “ainda falta muito a ser demarcado no Território Kokama, e sabemos que esse Marco Temporal quer dificultar ainda mais. Por isso, estamos na nossa 7ª Assembleia: pela demarcação da nossa terra. É através das nossas terras que a gente vai ter saúde e educação diferenciadas, que vamos ter justiça climática. Sem a demarcação, tudo isso fica ameaçado. Só que tem gente que quer desproteger nossas riquezas, mas a gente segue firme na luta para proteger nosso território. Nós estamos aqui, aqui resistimos e aqui existimos. Demarcação já!”, declara.

Educação, saúde e futuro

Pedro Kokama e Luiz Lopes (ACT-Brasil)
Foto: Pedro Kokama e Luiz Lopes (ACT-Brasil) 

A discussão sobre o território se entrelaçou com outras pautas fundamentais da luta indígena, como o acesso a uma saúde pública que respeite as especificidades dos povos indígenas, e a preservação das línguas, da cultura e dos ritos que fortalecem a presença indígena em seus territórios e guiam as futuras gerações — que também tiveram espaço na Assembleia.  
 
Durante o evento, houve uma roda de conversa com crianças Kokama sobre a infância indígena e as formas de preservar a cultura desde os primeiros anos de vida. “Aqui, nós estamos no caminho certo. O futuro e as respostas somos nós”, disse Pedro Kokama, de sete anos. 

Outro momento marcante foi a homenagem aos cerca de 20 Kokama presentes que cursam ou já concluíram o ensino superior. O reconhecimento reacendeu o debate sobre a importância de políticas públicas que promovam o acesso dos povos indígenas à educação superior, garantindo maior pluralidade e visibilidade dos seus olhares nos espaços acadêmicos. 

ACT-Brasil ao lado do povo Kokama  

A 7ª Assembleia do povo Kokama contou com o apoio da ACT-Brasil, viabilizado por meio do Andes Amazon Fund (AFF), que contribui para a etapa fundiária nos processos de demarcação de territórios indígenas, e da Rainforest Foundation Norway, parceira que fortalece a atuação conjunta entre a ACT e diversos povos indígenas. Essa colaboração se dá em ações voltadas à demarcação, proteção e monitoramento dos territórios, além do fortalecimento institucional das comunidades envolvidas. Tais parcerias reafirmam a importância de investir em iniciativas que impulsionem a luta e a autonomia dos povos indígenas. 

Equipe ACT-Brasil e lideranças Indígenas.
Equipe ACT-Brasil e lideranças Indígenas. Foto: Acervo ACT-Brasil

Para além do apoio para a realização da Assembleia, durante o evento, a ACT-Brasil ainda apresentou ao povo Kokama o mapa da região do Alto Rio Solimões com as comunidades indígenas identificadas. Até o momento, cerca de 82 comunidades foram mapeadas, apesar das dificuldades e da ausência de dados oficiais que visibilizem esses povos na região. 

Segundo Ricardo Londoño, geógrafo e analista de campo da ACT-Brasil, esse é um esforço que contribui não apenas para a organização e gestão territorial do povo Kokama, mas também para reafirmar sua presença no território e fortalecer os vínculos comunitários — sendo um instrumento importante na luta pela proteção e reconhecimento territorial. 

“Esse é um trabalho ainda em desenvolvimento, pois existem várias comunidades que não podem ser identificadas, uma vez que não aparecem na base de dados da saúde nacional nem em outras fontes oficiais. Visibilizar a presença dessas comunidades é fundamental na luta pela proteção do território. Tornar visível é uma estratégia política para reafirmar a existência e a importância desses povos, e para assegurar que seus territórios e direitos sejam protegidos”, explica Ricardo. 

Apresentação do mapa da região do Alto Rio Solimões.
Apresentação do mapa da região do Alto Rio Solimões. Foto: Acervo ACT-Brasil

Justiça Climática e demarcação para os povos indígenas  

No último dia da Assembleia, 11 de julho, o povo Kokama tomou as ruas de Amaturá (AM) pela demarcação e proteção de seus territórios e em repúdio ao Marco Temporal. “O povo Kokama existe” foi o grito que ecoou durante a marcha, reafirmando que os saberes, práticas e modos de vida indígenas devem ser considerados em todas as ações voltadas ao enfrentamento das mudanças climáticas. Os direitos e a proteção do território do povo Kokama — assim como os de diversos povos indígenas do Brasil — precisam estar no centro dos debates sobre justiça climática. 

“Estamos ao lado dos povos para contribuir com a luta por seus territórios e pela manutenção de seus modos de vida. Entendemos que, sem a proteção dos territórios indígenas, não há como o planeta alcançar a justiça climática”, reforça Luiz Lopes, diretor executivo da ACT-Brasil. 

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